Paulo Chaves
Novas Pinturas de Plínio Palhano
"Minha preocupação é a matéria da pintura", diz Plínio Palhano sobre seu trabalho atual, que sucede a Flores de Fogo - uma explosão cromática numa linha abstratizante do tema -, pinturas expostas, em 1985, na Prefeitura Municipal de Olinda.
Em Pintura-Matéria - título da mostra que o artista recifense abre, quarta-feira próxima, às 20 horas, na Galeria Vicente do Rego Monteiro, no Derby - o que mudou fundamentalmente em relação a Flores de Fogo é que agora, ao invés de fazer trabalhos em que o assunto é apenas pretexto para a exploração de suas próprias inquietações e energia criativa, numa figuração embasada na fantasia e imaginação, Palhano pintou os óleos a partir da observação in loco de paisagens e figuras humanas ou de fotografias destas últimas, tornando mais explícito o aspecto figurativo de sua obra pictórica.
Em Pintura-Matéria há uma maior definição no modelado das formas em relação às suas séries anteriores de pintura. Mas a transfiguração da realidade visual através do senso poético do artista e da vinculação expressionista de sua linguagem continua presente.
"Em pintura, antes a matéria que o tema, prefiro. Uma pincelada: é essa dosagem espessa que ilumina decidindo o quadro, dando forma a uma abstração minúscula". A observação é do próprio pintor que, utilizando pincéis, espátulas, os próprios dedos, faz uma pintura sensorial, herdeira do tachismo e do informalismo, cromaticamente vibrante, de texturas diferenciadas, com concentração maior de matéria (tinta) em determinados setores.
Tematicamente diversificada, Pintura-Matéria, de Plínio Palhano (que acaba de ser premiado no Salão de Arte Contemporânea de Pernambuco - Versão 87), reúne na Galeria Vicente do Rego Monteiro, da Fundaj, uma natureza morta, um auto-retrato (muito bom, aliás), cenas de carnaval, de feiras e paisagens de Fernando de Noronha (onde Palhano esteve, há alguns meses, com outros artistas). A diversificação temática é, por sinal, novidade numa individual de Plínio Palhano, que antes (Paisagens de Nossa Vida ou Partes do Corpo Animal, por exemplo) preferia partir de uma visão abrangente de um determinado assunto para particularizá-lo em seus detalhes, o todo fragmentado em cada composição, como capítulos de uma mesma história.
"A pintura de Plínio Palhano é eivada de um sentimentalismo dramático" - escreveu Montez Magno a propósito da obra anterior do artista, mas que é observação pertinente à mostra atual. Para esses óleos de hoje sendo também válida a observação de Francisco Brennand em relação a Flores de Fogo: "Nos trabalhos é visível exatamente o compromisso cada vez mais radical do pintor consigo mesmo, com o lado dramático, rembrandtiano, vangoghiano, iberecamarguiano, sempre presente em sua personalidade como pintor."
Recife, 22 de novembro de 1987.
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