Frederico Morais
Réquiem para um mumbebo
Apenas um integrante da expedição de 1987 retornou à ilha: Plínio Palhano, que esbanja tintas em suas telas, realizando uma pintura pastosa, por vezes mórbida. Seus temas habituais são os nus femininos, que se mostram fortemente iluminados sobre um fundo negro, e naturezas-mortas. Palhano é um típico artista de ateliê, que se isola do mundo para melhor desenvolver suas elucubrações ético-estéticas. Não estranha, pois, que, em sua segunda investida à ilha, tenha escolhido um tema mórbido. O que o comoveu naquele cenário luminoso foi a agonia de um mumbebo, o mais comum dos pássaros existentes na ilha impedido de voar devido a uma asa quebrada. Seu “Réquiem para um pássaro”, também, não por acaso, foi realizado a partir de fotografias, no ateliê. É possível que Palhano, ao pintar este réquiem, guardasse ainda, na memória, a imagem dramática daquele pássaro que, após mergulhar no mar cheio de óleo, não conseguia mais alçar voo, o símbolo mais contudente de uma guerra absurda. Nada impede também que se “leia” nesta imagem de Palhano um alerta: defendam a ilha a qualquer custo.
1992Voltar à Série FERNANDO DE NORONHA