Plínio Palhano
A arte do fogo

Toda vez que participo do ritual na preparação do carro com as peças esmaltadas para entrar no forno, gosto de observar as chamas vermelhas intensas que se localizam na parte central - onde a simples argila passará, transformando-se em cor e forma -, com uma certa alegria primitiva, como quem presencia o poder do sagrado através das volutas explosivas, que fazem lembrar as forças geológicas, a via láctea, os corpos celestes e o pensamento humano regido pelo tempo.

O operário encarregado de tudo que acontece no forno chama-se foguista: ele dirige uma equipe para a organização dos carros que irão entrar para a fornada de pisos, painéis, objetos decorativos, controla o fogo, acompanhando a temperatura necessária para cada tipo de esmalte. É uma presença constante e atenta, sem ele os resultados não são alcançados. É o companheiro do fogo, o alquimista, o aliado para a transformação da matéria.

Foi na convivência com esses foguistas e suas equipes, que ouvi com freqüência a expressão - "...é a arte do fogo"- querendo dizer que tudo estava determinado por esse poder imenso que influencia a matéria e nela interfere, de forma imprevisível, e sendo ele o maior artista, o verdadeiro criador, é ele próprio esse elemento mágico; e quando falavam dessa "arte do fogo" mostravam-se bem humorados e felizes. Concordo plenamente com eles, daí o título desta exposição.



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